domingo, 22 de julho de 2012

"A mente faz grande parte do que você quer fazer"


Você já ouviu falar de Joan Benoit Samuelson? E de Gabrielle Andersen-Sheiss?




Tais nomes podem até soar de maneira estranha, mas, ainda assim, sendo ou não corredor ou corredora, desconfio que, alguma vez na vida, você já tenha ouvido falar de alguma delas (sim, são duas atletas), sobretudo da segunda, a tal Gabrielle.

Os deuses da corrida trataram de unir estas duas maravilhosas atletas num mesmo lugar, para competirem na mesma prova, cujo desfecho, embora muito diferente para ambas, foi uma das cenas mais marcantes, famosas, inesquecíveis e tocantes do esporte mundial e, ao mesmo tempo, a partir daí, um dos maiores exemplos de que quando se tem perseverança, determinação, esforço, garra e dedicação, tudo passa a ser possível.

A história registra que tudo aconteceu  numa manhã de forte calor e umidade, no dia 5 de agosto de 1984, em Los Angeles, nos Estados Unidos.



Eram 50 mulheres, de 28 países, reunidas para correr, pelas ruas e avenidas da cidade, a primeira maratona olímpica feminina oficial da história, os temidos 42 quilômetros, que desaguaram nas pistas do Los Angeles Memorial Coliseum, local que recebeu, na ocasião, um público de quase 80 mil pessoas (como eu gostaria de ter estado lá para presenciar aquela cena).

Abro um longo parêntesis.

Era a primeira corrida oficial feminina porque somente em 1981 o Comitê Olímpico Internacional decidiu que as mulheres poderiam, enfim, participar de uma maratona.

Até então, autoridades esportivas argumentavam que a distância era exaustiva e não saudável para uma mulher.

Um fato curioso em toda esta história é que, num ímpeto que hoje é tão comum às mulheres, em 1966, uma tal de Roberta Gibb resolveu correr uma maratona sem a devida autorização.  E decidiu fazer isso logo em Boston, que, na época, era a prova mais conhecida, e tornou-se a primeira mulher a completar  a corrida, com o tempo de 3h21min40s.

Roberta voltou às ruas um ano depois e teve a companhia de outra doida: Katherine Switzer, que se inscreveu com o nome de K.V. Switzer, que correu disfarçada de homem. 

Ao descobrirem o golpe, os organizadores tentaram retirá-la da prova, todavia, devidamente escoltada pelo namorado também corredor, Katherine concluiu o percurso em 4h20min.

Fecho o parêntesis.

Voltando à Olímpiada de Los Angeles, são muito poucos os que se recordam do nome da grande vencedora da prova: Joan Benoit - o nome que citei na primeira linha deste texto.


Uma vitória realmente marcante, já que esta corredora norte- americana foi a primeira mulher a conquistar uma medalha de ouro em maratonas olímpicas e também a primeira a correr os 42 km abaixo de 2h25min, um feito extraordinário, de fato. Bateu também o recorde mundial em duas ocasiões em maratonas, além de ter vencido duas vezes a maratona de Boston e outra em Chicago.


Costumeiramente, somos levados a louvar e enaltecer os campeões apenas, sejam quais forem as modalidades esportivas que pratiquem, mas a história mostra que, nem sempre, os louros recaem unicamente sobre os vencedores.

Vou recorrer ao futebol para dar um velho exemplo de como isso ocorre: todos se lembram da maravilhosa seleção canarinho, aquela comandada pelo grande mestre Telê Santana, que tinha jogadores excepcionais como Luizinho, Cereza, Júnior, Falcão, Sócrates, Zico, Éder e outras estrelas, que, embora dando show na Copa do Mundo de 82, na Espanha, caiu frente à seleção da Itália, do carrasco Paolo Rossi.


Aquela seleção não levou o título, mas, ainda hoje, é reconhecida, pelos amantes do futebol, como um dos times que mais encantaram gerações pelo futebol plasticamente bonito, jogado com arte, talento, criatividade.

Guardadas as devidas proporções e diferenças, foi mais ou menos isso que aconteceu também em 1984, em Los Angeles com a grande Gabrielle Andersen, aquela atleta que se tornou conhecida não por um título, (ela, aliás, não conquistou qualquer competição considerada importante) mas por ter sido protagonista de um dos momentos mais emocionantes do esporte.

Emissoras de televisão do mundo inteiro registraram o momento emblemático em que, aos 39 anos e em sua primeira participação em Jogos Olímpicos, Gabrielle, já dentro do estádio, entrou cambaleando, completamente desidratada pelo forte calor que fazia, contorcendo-se em dores e com cãibras na perna esquerda, o que deixou extremamente preocupados os médicos que a seguiam ao lado da pista no Memorial Coliseum e atônitos tanto os torcedores das arquibancadas quanto os telespectadores que acompanhavam as transmissões pela tevê.


Gabrielle se arrastou pelos últimos 200 metros da maratona, levando mais de 6 minutos para completá-la, quando, então, desmaiou nos braços dos médicos, após cruzar a linha de chegada, na 37ª posição dentre as 44 participantes.

Foi ovacionada pelo público.

Horas depois da prova, disse que insistiu em terminar o percurso porque talvez aquela fosse sua única chance de participar de uma olímpiada, sobretudo pela idade que tinha. "São os jogos olímpicos, é minha única chance. Eu vou terminar. Não importa como seja!", foi o que pensou.

A dor de Gabrielle não ofuscou a alegria da vitória de Benoit e nem foi um feito menor.

Entretanto, mais que a dor de Gabrielle fica a lição que ela mesmo deu quando disse:   "...muitos limites estão na sua mente. É  o que dizem. A mente faz grande parte do que você quer fazer!" 

Eu acrescento: se você quer mesmo, qualquer coisa que seja, você consegue!


Aí, você vai dizer: "Lá vem o Durães com 'autoajuda'". 

Quem sabe não é mesmo? Mas quem sabe não resolve, não é? 

Tenho certeza de que foi minha mente uma das principais responsáveis que me deu condições de participar de uma maratona recentemente, pois, quando soube que, no dia da prova no Rio de Janeiro, no dia 8 de julho, estava inscrito para correr os 42 quilômetros e não os 21 da meia maratona, foi exatamente ela (minha mente) quem começou a trabalhar para que eu tivesse condições de correr esta longa distância sem sequer  ter treinado uma distância maior que 30 km alguma vez na vida.


E, no decorrer da prova, disputada sob uma chuva persistente e com muito vento e frio, fui, a todo momento, testado em minhas condições físicas, psicológicas e em meus limites. 

Foi um embate comigo mesmo. O tempo todo. As pernas insistindo em chegar, o corpo cansado, o desgaste físico e emocional. 

Metade de mim dizia que eu devia parar, porque senão iria me estourar todo, mas a outra metade (certamente, a mais poderosa e teimosa), ao contrário, insistia para que eu seguisse seguir em frente, e que chegasse de qualquer forma, até mesmo arrastando, caso necessário.


Depois de provar da minha primeira maratona, o que minha mente diz é que devo me preparar para novos desafios.

Isso vale para a corrida, mas para a vida, também!

Um passo de cada vez. Sem parar. 

Enquanto eu tiver saúde e disposição, meu limite irá até onde eu puder ir e chegar.

A corrida é uma paixão!

Um abraço a todos.

Vamos correr!

No vídeo abaixo dá pra recordar a linda história de esforço e superação de Gabrielle Andersen e, de quebra, ver a repórter Isabella Scalabrini de tempos atrás. Show!


9 comentários:

  1. Lindo, Edu... também tenho certeza que foi memso a mente que te levou quando as pernas já não aguentavam mais. Que ela continue dando asas a seus sonhos mais íntimos, nas pistas, na vida e no trabalho.

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    1. Obrigado, amiga!!! Oxalá suas palavras se materializem!!! Um beijo.. Espero você oficialmente ali em cima, entre meus acompanhantes... Valeu!

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    1. Estaremos aqui sempre que possível, meu amigo Glaysson. São vocês é que me ajudarão a impulsionar a vida!! Um abraço e obrigado.

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  3. Vc recentemente se superou na última maratona que participou. Quando postou no face que tinha completado a prova, achei o máximo! Podemos ir além do que imaginamos, acredito muito nisso! Só depende de nós mesmo, do nosso esforço, de acreditar que somos capazes. Esse vídeo que vc postou é emocionante, já assisti algumas vezes. Essa mulher é um exemplo lindo de superação!

    Lindo texto!

    Grande abraço!

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    1. Gi, realmente, nossa cabeça determina tudo. Obrigado por estar sempre por aqui curtindo os textos e comentando. Um beijo!

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  4. Gabrielle...grande exemplo de superação! "Se voce quer mesmo alguma coisa vc consegue"...eu tenho certeza disto Edu, experiencia própria...eu que a poucos anos atrás estava em uma UTI toda entubada, com ajuda de aparelhos para poder respirar...eu que quase fiz transplante pulmonar.....agora sou corredora, já fiz algumas meias maratonas e estou pronta pra ir a São Silvestre.....sei perfeitamente o que é SUPERAÇÃO...continue escrevendo suas histórias pra que tenhamos sempre um incentivo e inspiração para continuar!!! bjos Edu!!
    Eliane Polinarski (não consegui postar com meu nome desta vez)

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    1. Querida Eliane, obrigado por suas palavras. Que história bonita e inspiradora a sua. Exemplo de determinação e amor à vida..
      Parabéns por sua dedicação e força.. Obrigado por curtir o blog.. Um grande abraço pra você!!!

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  5. Gabrielle...grande exemplo de superação! "Se voce quer mesmo alguma coisa vc consegue"...eu tenho certeza disto Edu, experiencia própria...eu que a poucos anos atrás estava em uma UTI toda entubada, com ajuda de aparelhos para poder respirar...eu que quase fiz transplante pulmonar.....agora sou corredora, já fiz algumas meias maratonas e estou pronta pra ir a São Silvestre.....sei perfeitamente o que é SUPERAÇÃO...continue escrevendo suas histórias pra que tenhamos sempre um incentivo e inspiração para continuar!!! bjos Edu!!

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