sábado, 17 de novembro de 2012

Notícias de Curitiba: nas ruas que têm alma e história, previsão é de tempo bom!


Normalmente, minhas corridas começam bem antes da corrida propriamente dita. Os bastidores de toda viagem e de toda corrida, enfim, são sempre uma oportunidade deliciosa.

Como gosto de uma boa história, fico sempre atento, de olhos bem abertos e orelhas em pé, para ver se encontro um colega corredor por aí.

A exemplo de tantos grupos sociais que se formam aos montes, os corredores também são uma tribo à parte. 

Minha tática para identificá-los é simples:  eu olho para os pés - geralmente, eles estão com tênis próprios de corredores  - e, quase simultaneamente, para a camisa que estão usando. Não raro, é uma vestimenta (camisa, camiseta ou agasalho) alusiva a alguma corrida. 

Assim tem sido pelos vários lugares que tenho andado para correr e não foi diferente na vinda aqui para Curitiba.

Um encontro com corredores ocorreu já no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, onde desci para fazer conexão para a capital paranaense, na manhã deste sábado, 17 de novembro.

Logo na saída da aeronave, seguindo meu faro, perguntei a um dos três que seguiam à minha frente (lógico, depois que olhei para os pés) se o destino era o mesmo que o meu. 

Acertei na mosca. Disseram-me que também vinham de Minas, dois deles de Montes Claros (no norte do estado), terra do meu pai, e desembestaram a falar, tão rápido quanto o ritmo que devem imprimir na prova - o terceiro colega saiu de lado para ir ao banheiro. 

- "Este ano", disse um eles buscando confirmação do outro, "já fiz a Maratona da Linha Verde, em Beagá, a Maratona de Foz do Iguaçu (PR), a Maratona de São Paulo, a Maratona de Porto Alegre (RS), a maratona ..."

Entre espantando e admirado, pensando "meu Deus, este homem ou vive pra correr ou corre pra viver," interrompi, perguntando:

- "Puxa, quantas maratonas vocês fazem por ano?

- "Umas seis", devolveu o colega.

Ambos tinham, com certeza, mais de cinquenta anos - um deles, aliás, com os cabelos totalmente grisalhos, não tinha menos que 65 anos, acredito eu. E com um físico natural de fazer inveja a muito bombado artificial.

Todo corredor é mesmo um prosa, gosta de contar e ressaltar seus feitos. Acho mesmo que, nestas horas, há quem acredite se sentir quase como os grandes maratonistas da história, tipo um João da Mata, um Rolando Veras, um Vanderlei Cordeiro de Lima, um Marilson Gomes dos Santos, quiça como os africanos famosos tipo um Paul Tergat, um Martin Lel, um Robert Kipkoech Cheruyiot, um Patrick Macau e por aí vai. (Pobre de mim: se eu tivesse pelo menos o tamanho da pernas e a velocidade destes caboclos).

Nos despedimos também rapidamente (nem perguntei o nome dos colegas - as amizades hoje também são fugazes), pois nossos voos partiriam em horários distintos (pelo menos ali saí na frente deles e embarquei primeiro), já com o pensamento em comprar um jornal assim que desembarcasse. 

É mania minha toda vez que chego a algum lugar em que ponho os pés pela primeira vez ir direto à banca mais próxima adquirir um jornal da cidade - não apenas porque eu adoro bancas de jornais, mas porque, talvez, isto seja coisa de jornalista. Um jornalista corredor, um corredor jornalista. 

Eu, cuja meta a partir do ano que vem, é disputar, pelo menos, duas maratonas por ano - uma a cada semestre - encabulado com o feito dos colegas mineiros já quase na terceira idade, e mesmo sem acreditar nas previsões dos astros (embora confesse que, quando mais novo, adorava ouvir a astróloga Zora Yonara, então em sua participação na Rádio Itatiaia), resolvi abrir os jornais e ver o que estaria reservado para mim. Procurei a página de  horóscopo.

Se no avião "acertei" que os caras eram corredores, quem sabe, as previsões não me estariam favoráveis (todos também temos meio que a mania de querer adivinhar tudo, não é mesmo?). Quem sabe eu não dispararia na frente e ganharia dos caras, né?!

As notícias dos astros até que são auspiciosas. A previsão para meu signo (Escorpião) diz que estou sofrendo a interferência de Mercúrio e que muitas mudanças estão para acontecer no trabalho e na vida familiar. 

Os astros, no entanto, não falam como será meu desempenho na maratona, mas asseguram que o tempo é favorável a passeios, viagens  - olha aí aqui em Curitiba - mas que, no amor (eita amor... este bendito que a gente corre a vida inteira atrás) a coisa anda feia. Acredito que dever ser aquela máxima: "sorte no jogo (da corrida), azar no amor!". Mas, esta maré vai virar!

Previsão boa mesmo é a da temperatura aqui em Curitiba, bem ao contrário do que eu imaginava. 

Minha suspeita era de que faria muito frio ou até mesmo de que a chuva apareceria pelas bandas de cá. Tratei de colocar calça e blusa dentro da mochila. Errei feio.

Desembarquei aqui com temperatura na casa dos 21 graus.

Como também sempre faço, no dia que antecede as corridas, tomado por um comichão, saí para caminhar pelas ruas e avenidas da linda Curitiba, tal como um flâneur (na concepção do escritor, poeta e teórico francês Charles Baudelaire, aquele que anda pela cidade com o objetivo de experimentá-la e vivenciá-la).

Isto também porque, como vocês já sabem ou pelo menos devem ter percebido, eu adoro chão. Curto muito as ruas e seus símbolos, seus sentidos, suas direções.


Acredito, enfim, naquilo que sempre afirmava, em suas crônicas, o grande João do Rio, que tão bem descrevia as ruas dos tempos antigos do Rio de Janeiro: "as ruas têm histórias; as ruas têm alma". 


Então, voltando à temperatura, ao bater perna pela cidade, após pegar meu kit de inscrição para a corrida, a coisa esquentou: a temperatura chegou à casa dos 25 graus.

Entretanto, voltou a cair agora, no momento em que escrevo este texto (quase seis da tarde), alcançando 20 graus - o que, na verdade, não chega a ser frio, mas, sim, uma temperatura muito agradável para se correr.

Neste domingo, dia da maratona, diz a meteorologia, que o sol nascerá às 6h19, a temperatura mínima será de 13 graus e a máxima de 24 graus, com ventos a 11 quilômetros por hora e sol com muitas nuvens durante o dia, com períodos de céu nublado.

Mesmo que os termômetros oscilem, o que não devem mudar, segundo minhas "previsões" de corredor, são a  temperatura elevada de alegria e bom astral dos corredores e, também, a possibilidade de colher e (re)escrever novas histórias a cada passo que eu der nas ruas e avenidas de Curitiba.

Que assim seja.

Até a próxima previsão, ou melhor, a próxima corrida.

Vamos correr!







sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Em Curitiba, outra maratona: como se fosse a primeira vez


Caso não haja nenhum imprevisto (e não haverá), irei correr, pela segunda vez, outra maratona, desta vez, em Curitiba, no próximo domingo, dia 18 de novembro.

A diferença em relação à primeira vez que corri os 42.195 quilômetros - em julho deste ano, no Rio de Janeiro - é que, lá na Cidade Maravilhosa, a maratona caiu aos meus pés por acaso (quem me acompanha por aqui, já conhece a história do vacilo que cometi ao efetuar a inscrição na maratona quando, na verdade, meu objetivo era correr apenas os 21 km da meia maratona).


Não meter os pés pelas mãos desta vez, e marcar o xis certo na opção (MARATONA), me deu a possibilidade de saber, com pelo menos quase três meses de antecedência, que teria um tempo mais elástico para treinar, o que, de fato, fiz, embora admita  que ainda não com aquele preparo como o recomendado.

Eu sofri um bocado quando marquei minha estreia nos 42.195 quilômetros, sobretudo porque fui pego de surpresa e não tinha as condições de preparação adequadas.  Muito consciente do que estava fazendo, no entanto, superei as limitações com muita força de vontade, garra, paixão e entusiasmo. Não desesperei. Corri bem, dentro dos meus limites e possibilidades e, enfim, deu tudo certo. 

Em virtude do esforço empreendido e do desgaste físico advindos deste tipo de corrida, dizem que participar de uma maratona, e mais que isso, completá-la, (e eu pude comprovar isso) não é para qualquer um; não é mesmo tarefa das mais fáceis.

Para os especialistas, um  planejamento adequado para atletas que desejam correr uma maratona deve conter, pelo menos, 20 semanas de treinos, ou seja, no mínimo, 5 meses, com progressões gradativas e leves no volume de treinamento. Neste quesito, falhei, afinal, treinei não mais que três meses.

Eles falam, também, na importância da evolução das distâncias nos treinos mais longos neste período, sobretudo para aqueles atletas que já correm, de maneira confortável, uns 18 km. 

Isso até que não é problema para mim, pois tenho conseguido, dentro das minhas limitações técnicas, principalmente, manter uma rotina de três a quatro treinos por semana, sempre com um mais longo aos sábados ou domingos, o que, no jargão característico dos corredores, é o famoso "longão".

Esse sim é um tipo de treino fundamental. Na verdade,  é o principal da semana, já que oferece algumas condições bem próximas daquelas que, normalmente, podemos nos deparar no dia da prova. 

O que os especialistas recomendam, numa avaliação bem generalizada,  é treinar até uns 34 km, mais ou menos 3 a 4 semanas antes da competição. Ponto para mim, pois eu consegui  treinar 32 km em meados de outubro.

Muitos argumentam, ainda, que o ideal mesmo é contar com orientação de um treinador capacitado, que respeite os limites, a individualidade e o tempo disponível do aluno para treinar, de maneira a adequar o treino ao condicionamento físico e à rotina de vida do atleta amador (disponibilidade de tempo, sono, vida social, trabalho, dentre outros fatores).

Outra necessidade imperiosa é a prática de uma atividade física complementar - a mais recomendada é a musculação, pois auxilia na prevenção de lesões, na manutenção da massa magra e no aumento da força e resistência das fibras musculares - dos cuidados em relação à alimentação, que deve ser balanceada e, de preferência, acompanhada por um nutricionista,  e da atenção especial que se deve ter, também, em relação ao equilíbrio energético do corpo: sistema respiratório, circulatório, imunológico, etc - todos estes fatores importantes para os atletas que curtem as grandes distâncias.

Aqui, entra aquela história do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço, afinal, confesso ser negligente com muitas destas recomendações, embora considere ser um sujeito cuidadoso e atento aos sinais que possam apontar para alguma irregularidade.
Por isso, faço uma visita ao médico como manda o figurino: pelo menos uma vez ao ano, para fazer o famoso check-up.

Aliás, minha consulta foi na semana passada. Embora não tenha passado pelo otorrinolaringologista, senti-me como se tivesse tomado um puxão de orelhas.

Como meu médico, que é clínico geral e também cardiologista, já me conhece, passou-me um verdadeiro pito porque eu disse a ele que continuo a provar, até com certo exagero, das muitas outras delícias da vida, além da corrida, claro. 

Por estas delícias, leia-se: coca-cola, bombom Sonho de Valsa, o Talento (aquele da embalagem preta é sensacional), caixa de Bis (preto ou branco, tanto faz), uma trufa crocante ou aquela de pimenta da Cacau Show, as porções de batata frita, uma carninha com gordura, uma asinha frita,  um frango a passarinho, fígado com cebola no Mercado Central, uma cerveja ou um chopinho de vez em quando, um torresmo, uma porção de mandioca frita com carne de sol...

Para atenuar meu "delito", disse a meu médico,  que corro dobrado depois dos meus abusos. De nada adiantou.

- Eduardo, disse-me o cardiologista: é recomendável que na sua idade seja diminuído o sal. Você também precisa diminuir a quantidade de doces e chocolates, as gorduras, o refrigerante.

Por fim, deu-me uma lista extensa com o que pode e o que não pode comer. Vou seguir as recomendações, adianto.

Saí do consultório do doutor, na semana passada, com a convicção de que o primeiro lugar que deveria entrar não seria um sacolão, para comprar legumes e verduras para mudar a alimentação, mas sim em uma igreja, para bater os joelhos no chão, erguer as mãos, e fazer qualquer promessa para dar conta de superar tantas tentações deliciosas. Melhor deixar esse papo pra lá.

Fora a visita regular ao médico, não tenho treinador. Acho muito bacana aqueles que contam com este auxílio, que pode ser individual, através das aulas com um personal trainer, ou por meio de uma assessoria, como as inúmeras que existem hoje por aí. 

Considero uma excelente atitude de qualquer pessoa procurar uma assessoria se quiser começar uma atividade física mais puxada como é a corrida, principalmente para quem não gosta ou não consegue  fazer uma atividade sozinho (a) e precisa contar com umas pernas amigas ao lado. 

É uma motivação extra, um gás a mais no ânimo. De quebra, você pode fazer novos e bons amigos, quem sabe arrumar um namorado (a), quiça uma esposa, talvez o seu futuro marido, e acabar transformando seu sacrifício de fechar a boca em um enorme prazer.

Entretanto, confesso que não é minha praia, ou melhor, minha pista. Gosto não. Prefiro ir sozinho. Vou por mim mesmo ( e aqui não vai qualquer prepotência). Por isso, leio sempre as revistas especializadas.


Acompanhamento com nutricionista também acho hiper, ultra, mega importante (mesmo para quem não é atleta), mas, também, não tenho auxílio deste profissional.

Agora, uma atividade complementar (musculação, natação, pilates ou seja lá o que for), em breve, pretendo iniciar.

O corpo, como eu e você já sabemos, é uma máquina e, como tal, precisa mesmo de manutenção. Para um sujeito como eu, deveras entusiasmado com a corrida, os cuidados devem ser ainda maiores, sobretudo porque, no caso particular da maratona (meu objetivo é disputar uma a cada semestre) é uma modalidade que envolve riscos, porque, de toda forma, o atleta acaba por submeter seu físico a um grande esforço e a estar sujeito, principalmente, a condições emocionais variadas.

O prazer maior na corrida, para mim, no entanto, não está na distância a ser percorrida (se 5 km, 10 km, 21 km, 42 km ou mais).


Meu êxtase está no caminho novo que (re)descubro na vida a cada vez que boto os pés nas ruas pra correr. Por paradoxal que possa parecer: correndo, descubro um novo jeito de caminhar! Faço o caminho traçado pelo coração que bate no peito dos meus pés.  Poético, não?!

Isso acontece tanto num treino quanto numa prova, quando a adrenalina é muito maior.

Quando corro, as famosas câimbras, as dores musculares, o cansaço, a respiração ofegante, as descidas ou subidas, o clima (calor ou frio, chuva ou sol), os problemas diversos na vida (no trabalho, na vida afetiva e familiar, as tristezas, as decepções) e quaisquer outras circunstâncias tornam-se mero detalhe frente à nova maneira de caminhar pela vida afora que consigo estabelecer.

Imagino. Sonho. Acredito mais um pouco. Reinvento trilhas. Crio atalhos. Vou muito além do que imagino poder ir. Busco energia no chão e saio mais forte a cada vez.


Em Curitiba, quero, novamente, ficar ansioso no dia que antecede a prova, perder o sono do sono que, normalmente, já não tenho, reviver todo aquele ritual de colocar o relógio, o monitor cardíaco, short, camisa, escolher a meia, amarrar o tênis e compartilhar daquele sentimento gostoso de chegar na linha de largada e me misturar àquele bando de gente alegre, determinada e saudável. 

E, então, correr. E chegar, que é o que importa. E chegar bem, que é o que vale ainda mais.


No fim das contas, acredito mesmo na frase que já se tornou clichê entre os que gostam de disputar maratonas.

Algo mais ou menos assim: "para um maratonista, a mente é tudo!"

Até a próxima corrida.

Um abraço a todos.

Vamos correr.