“Dar o exemplo não é a melhor
maneira
de influenciar os outros – é a única.”
Albert Schweitzer, teólogo, músico,
filósofo e médico
alemão,
Em meados 2003,
quando participei da segunda corrida da minha vida (foram nove quilômetros num
trecho da lagoa da Pampulha, em uma competição organizada por um clube aqui de
Beagá) minha filha ainda estava na barriga da mãe – ela nasceria naquele mesmo
ano, no dia 12 de outubro.
Assim que cresceu
um pouco e passou a ter noção das coisas da vida, toda vez que eu ia participar
de alguma prova de corrida, gostava de levá-la para assistir às competições.
Eu me divertia a
valer.
Mais que me
sentir motivado para correr e, ao fim da corrida, ganhar uma medalha, meu maior
incentivo vinha do fato de saber que, ao cruzar a linha de chegada, lá estaria
minha Júlia a me receber com um abraço apertado e beijos.
Naquele momento,
eu me sentia não apenas um pai, mas um pai atleta, um pai campeão.
Levá-la às
corridas era (é) uma maneira de incentivá-la
a gostar de praticar alguma atividade física – não necessariamente a corrida –
e, posteriormente, fazer daquilo um hábito.
Acredito
absolutamente que o esporte é a grande oportunidade para que, não apenas as
crianças, mas, todos nós, possamos dar conta das nossas infindáveis
possibilidades diante da vida.
Pelo esporte,
aprendemos a crescer.
Pelo esporte, lidamos,
a todo momento, com obstáculos e dificuldades e, no decorrer deste aprendizado,
somos estimulados a ter a autoestima elevada, a acreditar em nosso potencial,
na nossa capacidade de superação.
Pelo esporte, podemos
despertar aquele poder adormecido dentro de cada um de nós.
Levar a Júlia às
corridas, é, também, uma forma de ratificar aquela máxima, segundo a qual muito
mais importante que falar é o exemplo que damos.
E parece que a
coisa vem dando certo.
Acho que de tanto
presenciar minhas freqüentes saídas para correr, minha filha acabou por
despertar o desejo de experimentar a coisa.
Foi assim em 2012,
quando a inscrevi para participar de uma prova exclusiva para crianças, em Lagoa Santa.
A experiência
para ela não foi das melhores. Assim que romperam a faixa da largada, todas as crianças (divididas por faixas
etárias ) saíram feito loucas, desesperadas, correndo por correr, sem técnica
alguma, mas com muito coração – se não me falha a memória, a distância era de
uns 200 metros .
Júlia chegou ao
final da corrida exausta, ofegante, quase tremendo.
Estava tensa e
com ares de decepcionada, embora com a medalha nas mãos.
Penso que ela,
para me agradar, achava que seria possível chegar em primeiro lugar, embora eu
sempre dizia a ela que mais importante que ganhar era participar e vivenciar o
momento gostoso do esporte.
E dava a ela meu
próprio exemplo dizendo que eu nunca cheguei em primeiro lugar e sei que não
chegarei, afinal, além de não ter qualquer preparo para isso, não corro para
ganhar, corro para viver a emoção de estar ali. Corro para contemplar. Corro
por prazer.
Após a prova, ela
disse que não ia correr nunca mais.
Ainda assim não
deixou de admirar minha paixão pela corrida e nem tampouco de me incentivar.
E foi lindo
quando, há menos de dois anos, me brindou com um livro chamado “Era uma vez um
corredor”, de John L. Parker Jr, que conta a trajetória de um atleta que
dedicou sua vidaa atingir marcas expressivas na corrida. Ela fez questão de
frisar que havia comprado o livro “com o
dinheiro dela”.
Júlia me deu um livro que conta histórias de um corredor determinado |
O presente veio
acompanhado de um bilhete, pintado por fora e escrito à mão, assim:
De: Juju
Para: Papai
Pai eu te amo muito do fundo do meu
coração.
Eu sei que você também me ama muito e adora corridas e por isso eu
comprei com meu dinheiro este livro para você com o nome de Era uma vez um
corredor.
Acho que você vai amar este livro e vai ler 1.000 vezes (hehe)
Bjs.
Juju.
Presente veio acompanhado de um lindo e amável bilhete |
Babão que sou – e
acho que não é para menos – chorei e me emocionei bastante. Ali, naquele
momento, mais uma vez, tive a certeza de que ser pai é, para mim, a coisa mais
bonita, mais mágica e notável que já aconteceu na minha vida.
É o que me move,
o que me leva adiante – quem é pai (ou mãe) e gosta desta tarefa que é das mais
difíceis da vida sabe do que estou falando.
Quando eu pensava
que nunca mais ela iria correr, semanas atrás, acabei surpreendido com uma
pergunta da Júlia.
- Pai, sabe
aquela corrida que eu participei aquela vez em Lagoa Santa ? Não tem
ela de novo não? Eu quero ir!
Então, entre
surpreso e feliz, tratei logo de começar a olhar o calendário de provas infantis.
No último dia 22, ela voltou a correr |
Descobri três. Já a inscrevi para participar de todas.
Uma delas, aqui em Beagá, Júlia já correu no último dia 22, na Pampulha, num percurso de 200 metros.
Júlia estava leve e entusiasmada |
Foi show.
Momento de satisfação e muito amor |
Desta vez, empolgada, ela correu leve e feliz, menos tensa.
Acho que curtiu.
Chegou exausta, ofegante, entretanto, satisfeita.
Muito bacana também ver tantas crianças presentes na corrida, sendo incentivadas a praticar esportes. Isto é mesmo uma coisa notável.
Emocionado também fiquei quando vi que a Júlia, na noite anterior à corrida, fez
exatamente o que eu (e acredito que
muitos corredores também) costumo fazer: colocou nos pés da cama, bem
separadinho, o tênis novo que a mãe havia comprado para ela correr, o par de
meias e a bermuda também nova.
E ela tem estilo pra correr |
Ficou apenas à
espera da camisa da prova, que pegou momentos antes da corrida, e que exibiu como um troféu, feliz.
Pegar a camisa da corrida foi como receber um troféu |
Há tempos tenho
dito que a corrida tem me oferecido coisas maravilhosas pela vida afora: mais
saúde e disposição; um importante ganho físico, mas, sobretudo, mental; a
possibilidade de conhecer muitos e novos lugares lindos; a oportunidade mágica
das novas amizades, afinal tenho conhecido pessoas maravilhosas, guerreiras e
lutadoras, com as quais troco conversas, experiências e idéias e depois posso
contar suas histórias. São coisas muito bonitas que acredito terem o poder de engrandecer
qualquer pessoa. Não podemos perder a ternura da vida.
Quando vejo minha
filha correndo – meio que se espelhando no exemplo que posso lhe dar – comprovo
que não há preço que se pague por isso.
Júlia com a medalha: cansada, mas feliz |
Sinto que devo
correr ainda mais.
Sinto que se há
um motivo especial que me faça correr, ele tem nome: amor!
As corridas são
quilômetros infinitos de amor.
Muito amor pra
todos nós.
Vamos amar!
Muitas e ótimas
corridas para todos nós.
Vamos correr!
Um abraço a todos e até a próxima corrida.