domingo, 1 de julho de 2012

Beba a poesia da corrida


As bebidas isotônicas - bastante populares, principalmente nas academias e entre atletas, sobretudo os corredores - são indicadas para repor nutrientes perdidos durante o esforço físico.

Mas, como recomendam os especialistas, esses isotônicos têm uma indicação bastante espefícica, que é a de hidratar os atletas que praticam atividades físicas intensas, já que são bebidas constituídas por água, sais minerais, carboidratos e também ricas em cálcio, potássio, sódio e fósforo. 

São bebidas desenvolvidas para repor líquidos e sais minerais que os atletas perdem através do suor durante a transpiração.

O que dizem os entendidos nas questões técnicas é que o calor tem o poder de provocar perdas de líquidos por meio do suor que, muitas vezes, apenas a água não é capaz de repor - eles falam que ocorre uma perda dos tais sais minerais que são importantes para o equilíbrio orgânico do corpo, daí algumas pessoas sentirem aquela sensação de fadiga e até de "perna pesada" por conta da perda muito acentuada de água.

É por isso que quanto mais tempo passamos fazendo exercícios, maior é a perda de água (depois que os caras explicaram tudo isso, agora acho que aprendi).

Mas os isotônicos devem ser consumidos com moderação e não são indicados para aquelas pessoas que fazem apenas uma caminhada leve - para estes, o melhor mesmo é apostar e abusar dos copos de água, tomar um suco ou beber uma água de coco.

Toda esta enrolação é pra dizer que, muito mais que um refresco para me hidratar depois dos treinos ou das provas, os isotônicos me servem para outras coisas. 

Na verdade, o que vale para mim não é a bebida em si - que, de fato, tem gosto muito bom, em seus vários sabores - mas as garrafas dos isotônicos. 


Os amigos e amigas que me acompanham e sabem da minha paixão  pelo correr  já conhecem também minha mania (não sei se a denominação correta é essa) de reaproveitar as coisas.

Isto é, às vezes, eu tento reutilizar os acessórios da corrida para (re)criar outras coisas, numa outra função que não a original.


Foi o que fiz com as camisas oficiais das provas, com os tênis, com os chips de cronometragem e agora  também com as garrafas dos isotônicos.

A corrida, além de um esporte que adoro praticar, tem servido como um pretexto para estimular minha criatividade - se as coisas que estão sendo criadas ficam boas ou não, aí deixo para a avaliação de vocês.

Mas, claro, tudo tem sido fruto de 99% da transpiração e 1% da inspiração. 

Desta vez, resolvi usar os chips e colocá-los dentro das garrafas dos isotônicos. 


É como se as palavras escorressem também para banhar nossa alma.

É a prova de que a corrida, além de sabor, tem saber.

Pelas garrafas, mando mensagens da felicidade que a corrida me causa.

Os isotônicos repõem os líquidos e os sais minerais.


A corrida, além da transpiração, traz inspiração. 

Oxalá seja assim enquanto eu correr!

Um abraço a todos.
Boas corridas.
Vamos correr!

O chip virou poesia


Considerado o pai da química moderna, o francês Antoine Laurent de Lavoisier (1743-1794) se tornou célebre por seus estudos sobre o princípio da conservação da matéria (não me perguntem o que é isso, porque não faço a mínima ideia) e acabou também imortalizado por uma frase popular que tantas vezes chegamos a escutar na escola e que, volta e meia, ainda chega aos nossos ouvidos: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".

Dizem que Lavoisier quis mostrar, com isso, que não se pode criar algo do nada nem transformar algo em nada, uma vez que tudo que existe por aí tem origem em uma matéria preexistente, só que em uma outra forma.


Entendeu? Não?

Nem eu!

Ainda assim, foi pensando exatamente nesta frase do químico francês que eu resolvi criar algo de coisa nenhuma. Fazer de um nada um tudo!

Ou melhor, criar algo de um algo que já existe, mas que é considerado descartável.

Explico melhor: toda vez que vamos participar de uma prova de corrida, a organização nos fornece o chamado chip de cronometragem.

Todo corredor, seja amador ou profissional, sabe do que estou falando.

Todavia, quem não corre, quem ainda não se atreveu a entrar no delicioso mundo das corridas, talvez não saiba que este até então ínfimo objeto é, na verdade, extremamente valioso.

Afinal, são estes pedacinhos de plástico os responsáveis pelo alto poder de captação do tempo alcançado pelos corredores, assim que estes cruzam os tapetes localizados no pórtico de largada e chegada, desde que devidamente utilizados, ou seja, presos aos cadarços dos tênis.


Aliás, sou obrigado confessar que, logo quando comecei a correr - lá se vai mais de uma década (período em que o próprio chip ganhou em evolução e modernidade) - na primeira vez que recebi este troço, fiquei meio que sem saber o que fazer: se colocava o chip no bolso, no braço, se levava na mão, se amarava no pescoço ou se achava bonito e levava pra casa.

(No fim das contas, acho que devo ter feito como toda vez alguém faz quando, por exemplo, vai num restaurante chique pela primeira vez e fica observando na mesa ao lado todos os gestos que o sujeito executa para, num efeito osmose, repetir o mesmo pra ver se dá certo).

Na verdade, para alguns, o coitadinho do chip - que passa todo o tempo amarrado por fitas que são presas ao tênis do atleta - só serve mesmo para garantir confiabilidade e segurança na cronometragem e registrar, ainda, o tempo final e as diferentes classificações, como as de sexo, faixa etária, categoria, etc.


Depois disso, para alguns, o destino deles deve ser o lixo.

Não no meu caso, pois resolvi não apenas guardar alguns como lembrança de provas das quais participei pela primeira vez – Corrida Internacional de São Silvestre, Meia Maratona Internacional de São Paulo, Volta Internacional da Pampulha - como dar, digamos, um tratamento mais digno e de respeito ao chip.


Se, como disse Lavoisier, "nada se perde, tudo se transforma", penso que, na corrida -  como de resto na vida -  tudo, que de repente é ou pode parecer nada, quem sabe não pode vir a ser matéria nova para alguma coisa?

O fato é que a corrida também me ensina, a cada dia, que até mesmo o que parece ser descartável pode, numa outra análise, ser motivo para transformar o coisa alguma em alguma coisa.


Tudo depende, é claro, do olhar que lançamos às coisas: o que, para alguns, é descartável, feio, sem utilidade e sem importância, para outros, ao contrário, pode guardar belezas e ser extremamente valioso.

Para mim, o chip virou matéria de prosa e de poesia, porque, na corrida, sigo atrás de novas palavras para substituir as tantas que já ficaram pelos caminhos dos asfaltos das ruas e avenidas.

Guardadas as devidas proporções, tal como Chico poetizou em "As Vitrines", na corrida também sigo "catando a poesia que entornas no chão".


Um abraço e ótimas corridas a todos.

Vamos correr!


Entrevista na Rádio UFMG Educativa 
sobre o chip de poesia: "O olhar poético nas corridas de atletismo"


No dia 24 de maio de 2012, recebi um convite muito generoso para participar do programa Universo Literário, da Rádio UFMG Educativa, parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais e a Empresa Brasil de Comunicação (SBC), cuja programação pode ser ouvida através da frequência 104, 5 FM.


Quero registrar um agradecimento especial à produção do programa, particularmente à  Maria Navarro, Luíza Glória e Tamira Marinho - pela oportunidade que me foi dada para falar sobre a paixão pela corridas, as palavras e a criação da "poesia no chip" na entrevista. Foi um bate-papo muito legal!


O Olhar Poético nas Corridas de Atletismo
Entrevistado: Eduardo Durães, jornalista graduado com graduação em Letras pela UniBH, poeta e criador dos chips de poesia.


No link abaixo é possível ouvir o áudio da entrevista:


https://www.ufmg.br/online/radio/