domingo, 3 de junho de 2012

A corrida é o "bicho"!


Um dos inúmeros prazeres que a corrida nos possibilita é a oportunidade de experimentar caminhos ou percursos diferentes, tanto faz se isso ocorre nos treinos ou nas provas oficiais.


A grande diferença que vejo entre correr um trajeto diferente num treino e numa competição é que, na primeira, você tem a escolha ao seu dispor  (é você quem determina onde irá correr e como poderá se sentir intensamente livre naquele momento; você faz o seu caminho), já nas provas oficiais, o seu percurso é previamente determinado, ou seja, sua liberdade será apenas uma condição, digamos, "psicológica", uma experiência existencial, o que, aliás, já é maravilhoso. 


O que todo atleta de corrida quer, na verdade, pelo menos eu penso assim, é percorrer um caminho diferente, afinal, isso é algo que faz bem para a condição física (obviamente, os benefícios são muitos maiores, mas não vêm ao caso agora). 


Para mim, particularmente, muito além de todo este ganho físico, está a possibilidade de, ao conhecer um novo caminho ou correr num novo chão, exercitar e experimentar, de forma valiosa, o olhar. 


Digo isso porque, espeficamente aqui em Belo Horizonte, não temos grandes opções, já que  a grande maioria das provas é disputada na orla da lagoa da Pampulha, lugar realmente maravilhoso - aliás, meu cartão postal preferido na cidade ( embora, lamentavelmente,  esteja tão mal cuidada). Ainda assim, cansa sempre correr por ali, mesmo que vejamos coisas lindas em toda oportunidade.


Por isso, parece necessário, cada vez mais, experimentar outros caminhos; "novos correres".


Daí ter sido uma experiência muito bacana a 3ª Meia Maratona Internacional de Belo Horizonte, da qual tive a grata oportunidade de participar neste domingo (3), na lagoa da Pampulha, cujo grande atrativo foi ter parte de seu percurso - muito menos que três quilômetros - dentro do Zoológico.




Não sem motivo, o slogam da prova ter sido "corra com as feras" numa feliz alusão aos bichos e, também, porque não dizer, aos grandes atletas que participaram da prova (advirto que não me incluo entre os grandes, não apenas pelo tamanho, certo?!)


Aliás, cabe acrescentar, como bem salientou o folder de divulgação da corrida, que a Meia Maratona Internacional de BH "é a primeira e única prova da América Latina a ter parte de seu percurso em um zoológico", além de ter a vantagem de poder proporcionar aos corredores "uma belíssima visita ao riquíssimo acervo de animas e plantas" do local.




De fato, senti uma aura diferente, um clima muito gostoso ao atravessar a portaria do Zoo a partir da orla da lagoa e correr ali dentro. 


Foi, no mínimo, uma experiência rica, bonita e interessante (que graça poder tê-la vivido), mas confesso que não tive como reparar muito bem no valioso acervo de bichos e plantas, o que, talvez possa ser explicado por dois motivos: ou porque eu estava muito concentrado nos meus passos e na minha corrida ou porque poderia devia estar com o pensamento fixo naquele ditado, segundo o qual "se ficar o bicho pega, se correr o bicho come". 


(Vai ver, então, que os próprios bichos, os pássaros, sobretudo, não cantaram, calaram-se  esconderam-se, frente à ameaça dos homens que corriam por lá, como bem poetizou o grande Chico Buarque, na belíssima "Passaredo", em parceria com Francis Hime: "bico calado, muito cuidado, que o homem vem aí"!).




Como eu estava no território dos bichos - e quando você está em seu habitat natural você tem as rédeas da situação - e também porque não quis "pagar pra ver" este ditado - que, na verdade, é bastante utilizado para aquelas situações em que você se vê sem saída - preferi botar "sebo nas canelas" e passei a correr feito aqueles cavalos montados pelos jóqueis (nem tanto assim, certo?!).


Talvez isso sirva para explicar porque o grande vencedor da prova, o brasileiro Damião Ancelmo de Souza, tenha disparado na frente, dominado a prova inteira e concluído os 21.097 km em apenas 1h04min, aliás, léguas, léguas, léguas e léguas à minha frente, um pobre corredor mortal. 


Brincadeiras à parte, como no linguajar dos jovens da atualidade, Damião, que é nosso grande atleta olímpico, "mandou muito bem" na prova, tendo, inclusive, quebrado o recorde de tempo nesta meia maratona.


E, para não dizer que eu não falei das flores e nem dos bichos, rendo homenagem às  Margaridas, Dálias, Hortências, Rosas e a outros nomes prováveis de atletas femininas que possam ter disputado a corrida, pois elas têm provado que as mulheres estão cada vez mais lindas, competitivas - muitas, inclusive, nos deixam perceber apenas os rastros quando nos ultrapassam -  e também ao Lobo Guará, este "maior canídeo" da América do Sul, escolhido como mascote símbolo da corrida, como um sinal de alerta para sua necessária preservação, pois corre risco de extinção.


O fato é que, após ter participado desta prova, ratifiquei que a corrida é mesmo uma "experiência animal" que, aliás, tem me permitido ser muito mais humano, "demasiadamente humano".


A corrida é o "bicho"!


Um abraço,


Vamos correr!