O que faz um corredor no 1º de maio, Dia do Trabalhador? A resposta é óbvia: corre, afinal, um corredor é, também, um trabalhador das pistas, das ruas e avenidas, do asfalto, da terra e da grama, das cidades e do mundo.
E, ao invés de descansar, um corredor, na verdade, faz do feriado mais um motivo para colocar as pernas nas ruas e treinar mais um pouco.
Foi o que resolvi fazer hoje, adicionando, no entanto, uma pitada a mais de esforço: se, na semana passada, consegui romper a barreira dos 25 quilômetros em um treino, hoje fui um pouco mais além e completei um percurso de 30 quilômetros, o que, realmente, não é tarefa das mais simples.
Nestas horas é que penso como devemos reverenciar todos aqueles que se dedicam a correr, sejam os tradicionais 5 km, mas, sobretudo, aqueles monstros que conseguem a imensa e incrível façanha de correr os 42 quilômetros de uma maratona ou muito além disso.
De fato, não é para qualquer um.
Penso que meu estímulo por tanto esforço hoje muito se deve ainda à impressão causada pela entrevista com o senhor Antônio Marques da Silva, corredor de 67 anos com quem conversei após a Meia Maratona e a Maratona da Linha Verde, no último domingo (29), e que serviu como personagem para ilustrar, neste "Corrida em prosa e verso", o lado humano das figuras anônimas que engradecem as corridas pelo país afora.
Na minha modesta opinião de corredor amador, ainda não tão experiente assim, - com a Linha Verde completei apenas minha terceira meia maratona, ao passo que seu Antônio chegou à sua 87ª maratona - exemplos como o de um homem desta idade, com tanta disposição, ânimo, força de vontade e saúde, não devem ser negligenciados, particularmente pelos amantes da corrida ou por aqueles que pretendem entrar pela porta da frente neste mundo.
Na verdade, penso até que deveria ter descansado um pouco mais após a participação na meia da Linha Verde, prova que me exigiu bastante do ponto de vista físico, principalmente - como muitos corredores já haviam dito, esta corrida é bastante desafiadora e uma das mais difíceis do país.
Não sei quanto aos demais colegas, sobretudo aqueles que correram esta prova pela primeira vez, mas digo que ainda hoje, dois dias após a prova, aquela subida que antecede o bairro Guarani, lá pelo 12º quilômetro, ainda faz minha panturrilha miar - um chiado, que, no entanto, mistura dor e prazer, ao mesmo tempo.
Aliás, correndo tanto, acabei desenvolvendo uma técnica própria de muito sucesso, que preparei para aplicar nas subidas das provas que disputo. Esta técnica - que consiste em impulsionar o tronco para frente e, simultaneamente, aumentar as passadas - tentei aplicar também na meia maratona da Linha Verde. Assim, pensei que ganharia em velocidade e ultrapassaria muitos dos meus amigos corredores.
Deu certo em alguns momentos, mas, na maioria deles, deu tudo errado (eu tinha falado que a técnica era de "sucesso", né?).
Noves fora as brincadeiras, fiz um treino bem interessante hoje.
Tal como cheguei a pensar durante as subidas da Linha Verde, me fiz a tradicional pergunta que tantos fazem quanto se veem em situação de desespero ou de engano por uma escolha - a tal de "o que eu estou fazendo aqui" - cansei muito, minhas pernas doeram, mas, a cada vez que eu via uma plaquinha de marcação da quilometragem ficando para trás e meu objetivo se aproximando deliciosamente, eu me esforçava mais um pouquinho.
E, enfim, deu tudo certo.
Fechei meus 30 primeiros quilômetros correndo, sem pódio de chegada - afinal era apenas um treino - e sem beijo de namorada - que, imagino, ainda por volta das 6h20 da manhã, quando cheguei à Pampulha hoje, devia estar contando os últimos carneirinhos no sonho.
No fim de tudo, fiquei com duas certezas: a primeira é de que acho que sou, realmente, um pouco exagerado (ou obstinado, como queiram) e a segunda é que, se eu treinar com dedicação, me cuidar, com uma alimentação adequada, etc e tal, penso que poderei participar de uma maratona e completar os temíveis 42 quilômetros antes do que eu ando a prever.
Não sei bem até onde posso chegar, mas a corrida promete me levar cada vez mais longe. E cada vez mais longe eu irei, conforme minha capacidade e minha saúde permitirem.
Um abraço e ótimas corridas a todos.
Vamos correr!
Eduardo Durães
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