sexta-feira, 22 de junho de 2012

A corrida é uma viagem!


Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!”
[Eduardo Galeano, in “O livro dos abraços”]



Considero maravilhosa a citação acima.

O pedido do menino Diego ao pai Santiago expressa, na minha opinião, de maneira muito singela, toda a enorme confiança que o garoto, em sua inocência, numa insegurança própria da idade, deposita no próprio pai, tamanha magnitude do que via à sua frente naquele instante. O medo do desconhecido. O medo que assusta. O medo da imensidão!


Lembrei-me da citação acima quando pensei em escrever este texto para falar sobre minha experiência na corrida da Meia Maratona de Floripa, da qual tive o delicioso prazer de participar no último domingo (17), em Florianópolis (SC), em mais uma das gratas oportunidades que a corrida tem me proporcionado.

A esta altura você deve estar se perguntando: "O quem tem a ver alhos com bugalhos, Chico com Francisco ou corrida com citação de livro que, neste trecho, fala de menino inseguro diante da imensidão do mar?"

 Eu te explico.

Quem já correu por lá ou lá esteve em alguma ocasião, não me deixará faltar com a verdade: Florianópolis é um lugar tão lindo e agradável que eu, se pudesse, queria ter muito mais que meus quatro olhos (incluindo os que tenho com meus óculos) para dar conta não apenas de enxergar mas, mais que isso, poder expressar o quão maravilhosa foi a experiência de correr pela primeira vez tendo ao meu lado aquela imensidão do mar.

A coisa foi tão linda para mim que eu, ao correr, enfrentando o frio leve e os 21.097 km que tinha pela frente, não sabia se me concentrava na corrida e nas minhas estratégias de corredor ou se olhava para o mar, mesmo sabendo que eu corria o risco de tropeçar nas próprias pernas e me esborrachar no chão em poucos segundos.

Na dúvida, mantive a calma e resolvi fazer as duas coisas: corri com as pernas, mas, também, corri os olhos (e com os olhos) a contemplar o mar.

Também, pudera: quando se fala em "ilha" - e, como todos sabemos, Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina é uma das três-ilhas capitais do Brasil - nossa referência é delicada; imaginamos um lugar lindo, paradisíaco, que dá asas à nossa imaginação (e às pernas, no caso de um corredor como eu).

Por isso, nem vou me importar se vocês disserem que sou um corredor romântico ou um sujeito maluco ou exagerado, que acha poder enxergar além da possibilidade que nossos olhos oferecem.

Mas, cada um vê aquilo que quer ver e atribui os sentidos que quiser também.

Nestas horas me defendo pensando em Fernando Pessoa, que, se não me falha a memória, é o autor desta beleza: "Não sou do tamanho de minha estatura, mas sim do tamanho do que vejo".

Portanto, como foi minha primeira vez (e a primeira vez sempre é muito especial), permitam-me o derramento de palavras exageradas: amigos, eu estava em um local banhado pelo Oceano Atlântico e numa capital que, segundo a ONU, (dados de 2000), destaca-se por ser a capital brasileira com melhor índice de desenvolvimento humano e também com melhor qualidade de vida.

Lugar com ruas e avenidas muito limpas, com um povo muito cordial, educado e agradável, Floripa é, realmente, uma ilha. Da fantasia. Um lugar ideal para um sujeito que fantasia tanto como eu!

Correr ali, sob o viaduto que passa próximo à famosa ponte Hercílio Luz, no lado norte da ilha, numa subida que quase me fez miar de tanto esforço, já no final da prova e, sobretudo, na orla da praia, foi uma sensação pra lá de maravilhosa.

Correr em Florianópolis, para mim, foi a oportunidade de burilar o olhar!

O fato é que em Floripa, mais uma vez, comprovei que a corrida, além das tantas oportunidades que me propicia, tem me dado o prazer também (na verdade, um grande e verdadeiro pretexto) para fazer turismo, conhecer outros lugares, outras pessoas.

Conhecer a mim mesmo, porque a corrida é um grande encontro, tal como foi a sensação sentida pelo menino Diego frente ao mar.

 Aliás, muitos encontros em um só, mas, para mim, particularmente, o encontro com o outro e, sobretudo, comigo mesmo.

A corrida é uma viagem para dentro de mim mesmo. É quando o texto se manifesta. É quando a poesia vem ao meu encontro.

A corrida é uma espécie de GPS interno, que ajuda a me localizar.

Nela, conheço-me mais um pouco porque vivo muitas sensações, as mais diferentes e paradoxais possíveis. Beiro à agressividade, quando preciso imprimir um ritmo mais rápido e nestas horas sou obrigado a testar meus limites e suportar minhas dores, mas, daí a instantes ou a todo tempo, flerto com a doçura, porque apuro minha sensibilidade, afino meu olhar vendo coisas no caminho, as ruas e avenidas, a natureza em si, a enormidade das construções, o ritmo e a velocidade dos carros, os atletas que correm ao meu lado, cada um do seu jeito, à sua maneira. E tantas outras coisas!

A corrida comove.

E isso se dá em todas as possibilidades que este verbo é capaz de abarcar: comover no sentido de nos tocar, nos provocar emoções e, em seu aspecto mais amplo, de nos perturbar, nos causar inquietação e, portanto, nos (co)mover para outras direções, outros caminhos.

Sim, eu enxergo tudo isso na corrida!

Desta vez, a corrida me levou a Florianópolis e, graças aos deuses, ao contrário de todas as previsões, não choveu durante a prova (eu ando meio traumatizado de correr na chuva, tantas já foram as provas que disputei encharcado).

Também, nem precisava: a água do mar foi suficiente para, através dos meus olhos, me deixar de alma lavada, com a sensação de mais uma etapa vencida!

Em breve, verei mais água do mar: Rio de Janeiro, no dia 8 de julho, será minha próxima corrida!

Já gaguejando, com as pernas bambas e os dedos tremendo, peço a todos vocês: não me deixem mudo de beleza e me ajudem a olhar (e a escrever) quando eu estiver diante de toda a maravilha que a corrida me proporcionar!

Um abraço a todos.

Vamos correr!




4 comentários:

  1. Esse cara não é fraco. Conseguiu agregar à corrida, sua paixão, outra maravilha: conhecer maravilhas.

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    1. Glaysson, obrigado, amigo! A corrida também me dá o prazer de outra maravilha: as verdadeiras amizades, como a sua! Obrigado por sua presença constante aqui, com seus comentários, críticas e observações. Um abraço, amigo!

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  2. Com certeza uma experiência maravilhosa correr num lugar lindo assim. Prazer no correr com oportunidade de conhecer novas pessoas e fazer amigos, perfeito! Parabéns Edu por mais essa corrida, fiquei com vontade de correr num lugar assim tb, correndo e observando o mar, já que aqui em Brasília só tem o Lago paranoá..rs

    Abração,Gi.

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    1. Olá Gi, como vai? Floripa é realmente um lugar maravilhoso, ótimo para correr também. Espero que você tenha oportunidade de correr por lá algum dia, bem como em outros lugares tão lindos que nos esperam. Foi, de fato, uma experiência muito bonita para mim! Minha próxima parada é o Rio de Janeiro, no dia 8. Desnecessário dizer que aquele lugar também é mágico.
      Obrigado, mais uma vez, por sua presença e seus comentários aqui. Um grande abraço!

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