quarta-feira, 24 de abril de 2013

De pai para filha: quando a corrida se chama amor!


“Dar o exemplo não é a melhor maneira 
de influenciar os outros – é a única.”
 Albert Schweitzer, teólogo, músico, 
filósofo e médico alemão,

Em meados 2003, quando participei da segunda corrida da minha vida (foram nove quilômetros num trecho da lagoa da Pampulha, em uma competição organizada por um clube aqui de Beagá) minha filha ainda estava na barriga da mãe – ela nasceria naquele mesmo ano, no dia 12 de outubro.

Assim que cresceu um pouco e passou a ter noção das coisas da vida, toda vez que eu ia participar de alguma prova de corrida, gostava de levá-la para assistir às competições.

Eu me divertia a valer.

Mais que me sentir motivado para correr e, ao fim da corrida, ganhar uma medalha, meu maior incentivo vinha do fato de saber que, ao cruzar a linha de chegada, lá estaria minha Júlia a me receber com um abraço apertado e beijos.  

Naquele momento, eu me sentia não apenas um pai, mas um pai atleta, um pai campeão.

Levá-la às corridas era (é) uma maneira de incentivá-la a gostar de praticar alguma atividade física – não necessariamente a corrida – e, posteriormente, fazer daquilo um hábito.

 
Minhas medalhas eram
motivo de satisfação
também para Júlia
Acredito absolutamente que o esporte é a grande oportunidade para que, não apenas as crianças, mas, todos nós, possamos dar conta das nossas infindáveis possibilidades diante da vida.

Pelo esporte, aprendemos a crescer.

Pelo esporte, lidamos, a todo momento, com obstáculos e dificuldades e, no decorrer deste aprendizado, somos estimulados a ter a autoestima elevada, a acreditar em nosso potencial, na nossa capacidade de superação.

Pelo esporte, podemos despertar aquele poder adormecido dentro de cada um de nós.

Levar a Júlia às corridas, é, também, uma forma de ratificar aquela máxima, segundo a qual muito mais importante que falar é o exemplo que damos. 

E parece que a coisa vem dando certo.

Acho que de tanto presenciar minhas freqüentes saídas para correr, minha filha acabou por despertar o desejo de experimentar a coisa.

Foi assim em 2012, quando a inscrevi para participar de uma prova exclusiva para  crianças, em Lagoa Santa.


Júlia ficou muito tensa em
sua primeira corrida 

A experiência para ela não foi das melhores. Assim que romperam a faixa da largada,  todas as crianças (divididas por faixas etárias ) saíram feito loucas, desesperadas, correndo por correr, sem técnica alguma, mas com muito coração – se não me falha a memória, a distância era de uns 200 metros.

Júlia chegou ao final da corrida exausta, ofegante, quase tremendo.

Estava tensa e com ares de decepcionada, embora com a medalha nas mãos. 

 
Primeira medalha
teve um sabor
meio estranho 
Penso que ela, para me agradar, achava que seria possível chegar em primeiro lugar, embora eu sempre dizia a ela que mais importante que ganhar era participar e vivenciar o momento gostoso do esporte.

E dava a ela meu próprio exemplo dizendo que eu nunca cheguei em primeiro lugar e sei que não chegarei, afinal, além de não ter qualquer preparo para isso, não corro para ganhar, corro para viver a emoção de estar ali. Corro para contemplar. Corro por prazer.

Após a prova, ela disse que não ia correr nunca mais.

Ainda assim não deixou de admirar minha paixão pela corrida e nem tampouco de me incentivar.

E foi lindo quando, há menos de dois anos, me brindou com um livro chamado “Era uma vez um corredor”, de John L. Parker Jr, que conta a trajetória de um atleta que dedicou sua vidaa atingir marcas expressivas na corrida. Ela fez questão de frisar  que havia comprado o livro “com o dinheiro dela”.       


Júlia me deu um livro que conta
histórias de um corredor determinado

O presente veio acompanhado de um bilhete, pintado por fora e escrito à mão, assim:

De: Juju
Para: Papai  

Pai eu te amo muito do fundo do meu coração. 
Eu sei que você também me ama muito e adora corridas e por isso eu comprei com meu dinheiro este livro para você com o nome de Era uma vez um corredor. 
Acho que você vai amar este livro e vai ler 1.000 vezes (hehe)
Bjs.
Juju.


Presente veio acompanhado
de um lindo e amável bilhete

Babão que sou – e acho que não é para menos – chorei e me emocionei bastante. Ali, naquele momento, mais uma vez, tive a certeza de que ser pai é, para mim, a coisa mais bonita, mais mágica e notável que já aconteceu na minha vida.

É o que me move, o que me leva adiante – quem é pai (ou mãe) e gosta desta tarefa que é das mais difíceis da vida sabe do que estou falando.

Quando eu pensava que nunca mais ela iria correr, semanas atrás, acabei surpreendido com uma pergunta da Júlia.

- Pai, sabe aquela corrida que eu participei aquela vez em Lagoa Santa? Não tem ela de novo não? Eu quero ir!

Então, entre surpreso e feliz, tratei logo de começar a olhar o calendário de provas infantis. 

No último dia 22, ela
voltou a correr

Descobri três. Já a inscrevi para participar de todas.

Uma delas, aqui em Beagá, Júlia já correu no último dia 22, na Pampulha, num percurso de 200 metros.


Júlia estava leve e entusiasmada
 Foi show.  

Momento de satisfação
e muito amor
Desta vez, empolgada, ela correu leve e feliz, menos tensa.

Acho que curtiu. 


Chegou exausta, ofegante, entretanto, satisfeita.

Muito bacana também ver tantas crianças presentes na corrida, sendo incentivadas a praticar esportes. Isto é mesmo uma coisa notável.


Emocionado também fiquei quando vi que a Júlia, na noite anterior à corrida, fez exatamente o que eu (e  acredito que muitos corredores também) costumo fazer: colocou nos pés da cama, bem separadinho, o tênis novo que a mãe havia comprado para ela correr, o par de meias e a bermuda também nova.


E ela tem estilo pra correr

Ficou apenas à espera da camisa da prova, que pegou momentos antes da corrida, e que exibiu como um troféu, feliz.

Pegar a camisa da corrida
foi como receber um troféu 

Há tempos tenho dito que a corrida tem me oferecido coisas maravilhosas pela vida afora: mais saúde e disposição; um importante ganho físico, mas, sobretudo, mental; a possibilidade de conhecer muitos e novos lugares lindos; a oportunidade mágica das novas amizades, afinal tenho conhecido pessoas maravilhosas, guerreiras e lutadoras, com as quais troco conversas, experiências e idéias e depois posso contar suas histórias. São coisas muito bonitas que acredito terem o poder de engrandecer qualquer pessoa. Não podemos perder a ternura da vida.

Quando vejo minha filha correndo – meio que se espelhando no exemplo que posso lhe dar – comprovo que não há preço que se pague por isso.
Júlia com a medalha:
cansada, mas feliz

 Sinto que devo correr ainda mais.

Sinto que se há um motivo especial que me faça correr, ele tem nome: amor!

As corridas são quilômetros infinitos de amor.

Muito amor pra todos nós.

Vamos amar!

Muitas e ótimas corridas para todos nós.

Vamos correr!

Um abraço a todos e até a próxima corrida.



3 comentários:

  1. Que lindo Edu sua Júlia se espelhando no pai tanto na corrida quanto no "amor".Com o olhar sensível de uma criança e a capacidade de superar seus limites.É simplesmente lindo esse aprendizado com os filhos.Um grande beijo amigo.
    Lia

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    1. Dona Lia, obrigado pelo carinho e as palavras sempre incentivadoras. Ter um filho é uma dádiva e, ao mesmo tempo, uma imensa responsabilidade. Poucos são os capazes de ser pai ou mãe. Acho que tenho conseguido ser um bom pai.. E sei que ainda terei que correr muito atrás da minha filha!!! rss.. Um grande beijo!

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  2. Que máximo, Edu! Amei ver as fotinhas da sua filha participando das corridas. Posso imaginar a sua felicidade em ver a empolgação dela.

    Quando mencionou que sua filha logo após ter participado da primeira corrida dela, disse que nunca mais iria correr, lembrei da minha sobrinha, da primeira corrida dela também..rs..sempre empolgada quando à levava as corridas. Um dia pediu para participar. Queria ter chegado em primeiro lugar, ficou chateada e assim que cruzou a linha de chegada e veio ao meu encontro já foi pedindo para ir embora...rsrs... aí conversei com ela. Agora ela participa de outras corridas mais tranquila.

    Parabéns pra você e pra Júlia.

    Bacana, Edu! Grande abraço.

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