Após 45 dias longe, volto a escrever no blog.
Pela ausência, peço desculpas, particularmente, aos meus doze mais que importantes acompanhantes e também àqueles que, porventura, por aqui tenham passado por alguma razão - na verdade, este corridaemprosaeverso.blogspot.com.br conta com onze seguidores, pois, se observarem bem, a pessoa que passa a régua e fecha a conta em doze sou eu.
Sim, sou um seguidor de mim mesmo, não porque me ame tanto assim (quem sabe até pode ser por isso), mas simplesmente pelo fato de, ao criar o blog, ter errado nos comandos e, por azar ou sorte, me incluir entre os meus acompanhantes.
Permitam-me abrir um ().
Doze até que é um número interessante, vocês não acham? Para fazer uma analogia com o futebol, é um número que me faz lembrar do décimo segundo jogador - a torcida - que, com todo o entusiasmo, força e incentivo empurra o time para as vitórias.
E me faz lembrar, também, de algo mais nobre ou mais espiritual, mais sagrado, digamos: na tradição cristã, os discípulos de Jesus, escolhidos para pregar o evangelho ao mundo, os chamados apóstolos, eram doze no total.
Feito (e espero que aceito) meu pedido de desculpas e também descartada por vocês a absurda comparação com os apóstolos, justifico que minha ausência neste espaço foi causada por problemas pessoais e profissionais que, em decorrência disso, levaram para longe, para muito distante, talvez para fora do meu alcance, as palavras.
Algo como se elas tivessem corrido para fora de mim e eu precisasse, então, ir em busca delas novamente.
Correr atrás das palavras. Foi o que fiz a partir de então.
Foi, também, um período de reflexão, motivado por alguns outros acontecimentos: o principal deles minha participação, pela primeira vez, em uma maratona.
Por mais que eu tente explicar, através das palavras, o que representaram para mim os 42.193 quilômetros percorridos no Rio de Janeiro, em junho deste ano, acho que jamais conseguirei ter a exata dimensão do que ocorreu, daquilo que senti e vivi.
Sendo excessivamente simplista, basta dizer que, para mim, foi algo maravilhoso, mágico, transcendental, mas, também, dolorido, mais do ponto de vista espiritual que propriamente físico.
Na verdade, como já disse aqui, a maratona era um ideal distante para mim, algo que ainda levaria tempo para ser alcançado, que demandaria dedicação e empenho nos treinamentos.
Na minha mística de atleta amador, a coisa estava sendo pensada para frente, para o ano que vem: era para correr os 42.193 km aos 42 anos, que, no entanto, completarei em 2013.
Foi bem antes, antes dos 41 anos (que ainda nem completei), antes e sem qualquer treinamento específico.
Enfim, foi e ainda está sendo!
Aproveitei este tempo também para refletir sobre a coisa criada, o blog propriamente dito.
Ou seja, fiz o que muitas pessoas falam quando precisamos tomar decisões ou pensar sobre algo, mas estamos deveras envolvido com tal coisa que isso para nós torna-se difícil.
É o famoso chavão do povo: "quem tá dentro não consegue enxergar!"
Explico melhor: afastei-me do blog para pensar sobre o blog, observá-lo de uma outra posição, sob outro ponto de vista.
Manter um blog - incluir nele coisas interessantes, que despertem a atenção das pessoas, que façam com que possamos ter muito mais que 12 seguidores - não é tarefa das mais fáceis.
Tal como a corrida - que exige dedicação, inspiração e transpiração, dentre outras coisas - assim é (tem sido) para mim conseguir fazer vivo o blog.
Mesmo para quem escreve religiosamente como eu - por força do gostar, do hábito e da própria profissão - quando as palavras fogem, a coisa desanda.
A DOR DA ESCRITA
Afinal, escrever dói.
Para mim, dói tanto quanto a dorzinha que, de vez em quando, dá nas canelas, na sola dos pés, nas pernas, no corpo todo durante a corrida. E, depois, vem o relaxamento, o descanso.
É a dor do esforço, da transpiração, mas é dor misturada com prazer.
Ao decidir ter um blog eu casei a dor e o prazer de correr com a dor e o prazer de escrever.
Penso que definitivo mesmo foi Drummond nos versos que, inclusive, utilizei para inaugurar meu blog, tempos atrás, quando o poeta disse que "lutar com palavras é a luta mais vã, entanto lutamos mal rompe a manhã".
Na corrida, uma das metas (talvez a principal mesmo) é cruzar a linha de chegada; na escrita(numa avaliação simplória) talvez seja a de encontrar a palavra; não apenas a palavra, mas a palavra certa, aquela que cabe naquele lugar, naquele momento, para transmitir o que se pensa.
A corrida e a palavra nestes versos do mesmo poema de Drummond dão a dimensão do que arrisco-me a dizer:
"...luto corpo a corpo
luto todo o tempo
sem maior proveito
que o da caça ao vento.
Não encontro vestes,
não seguro formas,
é fluido inimigo
que me dobra os músculos
e ri-se das normas da boa peleja."
Por mais que a luta seja vã, eu continuo a correr duplamente: no exercício dos músculos e em busca das palavras, sobretudo quando elas insistem em fugir de mim.
Na corrida, o que foge é o tempo; na vida, me fogem palavras.
Mas, "...palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate."
Há dois desafios (combates) intensos para mim: escrever e correr; correr e escrever.
Escrever sobre corrida.
Na 02, revista especializada em corridas, da qual sou assinante, há sempre, nas páginas iniciais, algo de que gosto muito, que são frases extraídas, em sua maioria, de atletas.
Na edição de julho de 2011, uma destas frases sintetizam, para mim, o que sempre significou a escrita e, também, o que passou a ser a corrida, especialmente depois que experimentei os 42.193 km.
A frase é de um tal Bill Rodgers, maratonista norteamericano, vencedor de provas em Nova York e Boston: "A maratona te faz humilde".
É assim, portanto, que me coloco frente à corrida e, particularmente, diante da escrita: de joelhos, com reverência e humildade.
É como se eu fosse um corredor ajoelhado no Muro das Lamentações, rogando, porque sei que as palavras não vão aparecer quando eu quero, simplesmente pelo fato de que são, além de muitas, infinitamente maiores que eu, tal como é a corrida.
NOVO ESTÍMULO
Por isso, tenho que ir em busca delas.
É minha luta, que travo correndo, no dia-a-dia do trabalho, na vida ou na corrida.
Foi o que fiz, semanas atrás.
Mudei o estímulo para renovar a rotina: saí do asfalto, da dura concretudo das ruas, e fui correr em meio à natureza, na terra, na grama (no cenário maravilhoso de Lapinha da Serra), o que, de quebra, faz melhorar a performance, já que reduz o impacto da corrida e auxilia no fortalecimento muscular.
A busca de "novas" palavras diante do exuberante visual da natureza é um bálsamo para um corredor.
Assim, correndo em busca das palavras, pequenino, quase ínfimo diante da grandeza do meu poeta preferido e das próprias palavras, "apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida".
É o que peço: saúde e mais algumas palavras num dia de vida; num dia de corrida.
Ótimas palavras. Boas corridas!
Um abraço a todos.
Vamos correr!
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