Pai, me ajuda a olhar!
Diego não conhecia o mar. O pai,
Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e
o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o
mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu
fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar,
tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Me ajuda a olhar!”
Eduardo Galeano, em “O livro dos abraços”
Todas as vezes que
tenho a oportunidade de correr em meio à natureza - pisando a grama, na terra, barro ou cascalho
– ou por onde tenha uma lagoa ou na orla da praia, diante de toda aquela imensidão
sem fim, sinto-me tal como o menino Diego, do livro de Eduardo Galeano.
As coisas são tão
belas que fica difícil olhar sozinho.
Nestes momentos,
meu desejo era de que todas aquelas pessoas que gosto estivessem ao meu lado
para, então, olharmos todos juntos.
Um ajudaria o olhar do outro.
Pelo segundo ano
consecutivo, participei, no último dia 28, da corrida All Limits, na Lagoa dos
Ingleses.
O lugar é,
realmente, muito bonito. É um convite à contemplação.
Assim como no ano
passado, corri com a máquina fotográfica a tiracolo. E tirei fotos entusiasmadamente.
Eu, que encaro a
corrida como um prazer e não uma competição, atiro-me, nestas oportunidades, ao
deleite, à apreciação do lugar.
Esqueço que corro
com um relógio no pulso e até mesmo da cinta transmissora que sempre levo presa
ao peito para me certificar dos batimentos cardíacos.
Certamente, meu
coração bateu mais forte, pois pude presenciar as belezas do percurso, que, na
minha modesta opinião, mudou para melhor este ano, ainda que as subidas tenham
ficado mais íngremes e pesadas e algumas descidas no meio da terra até certo ponto perigosas.
Deixo de lado as
técnicas da corrida, esqueço de respirar como manda o figurino, corro risco de me
desequilibrar e ralar no chão – havia muito cascalho nos trechos de terra -
como fez um dos corredores que estavam à minha frente, que pisou em falso num
buraco e se espatifou no chão.
Mas, a alegria e o entusiasmo do sujeito eram
tamanhos que, da mesma forma que caiu, ele se levantou e continuou a correr,
como se nada houvesse ocorrido.
Estar nestes lugares
é, também, uma rara oportunidade de deixar um pouco o asfalto de lado - longe
dos carros que passam frenéticos ao nosso lado quando corremos em ruas e
avenidas.
É o momento de sentir o cheiro de mato,
ouvir o canto das aves, curtir mais o chão de terra batida, contemplar a lagoa e deixar por ali o
estresse que todos vivemos, todos os dias, na vida corrida.
Assim como o menino
Diego, também fiquei mudo de beleza, por muitos momentos, quase nem a minha respiração eu ouvia, e quando conseguia falar, repetia sozinho
para mim mesmo: nunca mais vou me esquecer deste momento.
Tudo isso ficará
para sempre na minha memória.
São instantes em que me sinto embevecido de tanta beleza e que agradeço a Deus por ter me dado saúde, disposição, ânimo e força de vontade para curtir estas maravilhas.
E continuo seguindo pelo que fala o meu coração, afinal de contas, em meio à natureza, como cantou 14 Bis, em mim é "tão natural ver a cor da estrada e desaparecer".
Correndo.
E continuo seguindo pelo que fala o meu coração, afinal de contas, em meio à natureza, como cantou 14 Bis, em mim é "tão natural ver a cor da estrada e desaparecer".
Correndo.
Um abraço a todos.
Boas corridas.
Vamos correr.
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